Somente muito tempo depois de observar a natureza, refletir sobre ela e fazer experimentos, foi possível descobrir modos de utilizar e, posteriormente, produzir fogo.
Provavelmente, os primeiros passos para essa descoberta foram dados quando os ancestrais humanos perceberam que o vento e o sopro sobre as brasas faziam o fogo reaparecer. Com isso, descobriram como mantê-lo aceso por mais tempo, mas não como produzi-lo.
Imagina-se que, pouco a pouco, os homens notaram que o fogo surgia quando folhas ou galhos secos eram aquecidos por muito tempo. Assim, perceberam que uma chama poderia ser iniciada quando algum objeto era exposto a alta temperatura. Essa descoberta, aliada á descoberta de que o atrito entre duas pedras ou dois pedaços de madeira gerava calor, possibilitou ao homem produzir fogo. Acredita-se que essa descoberta, ocorrida há cerca de 500 mil anos, tenha sido uma das mais importantes conquistas humanas.
PARA SOBREVIVER, ERA PRECISO ANDAR MUITO
Os humanos que viveram entre 5,5 milhões e 12 mil anos a.C. enfrentaram enormes dificuldades de sobrevivência, com poucos recursos para superá-las.
Nessa época, eles não sabiam produzir seus próprios alimentos. Para sobreviver, dependiam exclusivamente do que a natureza lhes oferecia, coletando os vegetais que cresciam nos campos e caçando animais selvagens. Quando os alimentos disponíveis acabavam, tinham de mudar-se para outros locais, de forma a garantir a sua sobrevivência. Por isso, durante milhares de anos, os grupos humanos não tiveram um território fixo como residência, deslocando-se constantemente de um lugar para outro.
Esse modo de vida, caracterizado por constantes deslocamentos em busca de alimento, é chamado de nomadismo, e quem o pratica é conhecido como nômade.
Os antigos grupos nômades fabricavam ferramentas muito simples, feitas com paus e pedras lascadas, usadas para caçar, cortar e triturar alimentos e lutar contra inimigos.
Habitavam cavernas, saliências rochosas ou tendas feitas de galhos e cobertas de folhas ou de pele de animais.
Como viviam em grupos, comunicavam-se e partilhavam suas experiências. Dessa convivência, surgiu um conjunto de práticas, hábitos, sinais de linguagem, regras e formas de sobrevivência que era partilhado pelas pessoas do mesmo grupo. A esse conjunto damos o nome de cultura.
Nem todos os seres humanos criaram sua cultura da mesma forma, pois as relações que estabeleciam entre si e com o meio ambiente variavam muito de um grupo para outro.
Foi nessa época que surgiram as primeiras pinturas rupestres. Essas pinturas, feitas nas paredes de cavernas e grutas, começaram a ser produzidas por volta de 40 mil a.C. e continuaram a ser praticadas durante toda a Pré-História, em muitos locais do planeta. Seus autores podiam utilizar diversos materiais: argila, sangue, ossos, madeira queimada. Inicialmente, os homens pré-históricos desenhavam apenas traços ou faziam marcas com as mãos nas paredes. Com o passar do tempo, passaram a registrar seus hábitos de vida, retratando a caça, o pastoreio, os rituais.
PLANTAR PARA PODER FICAR
Há aproximadamente 12 mil anos, grupos humanos aprenderam a cultivar plantas e a domesticas animais. É muito provável que essa descoberta tenha ocorrido com a observação da natureza, num processo semelhante ao da descoberta do fogo, que demorou milhares de anos e não aconteceu em todos os lugares ao mesmo tempo.
Pouco a pouco, os seres humanos foram percebendo que as sementes, ao caírem na terra, germinavam e davam origem a uma planta igual á que lhes originou. Com o passar do tempo, a ação antes espontânea tornou-se intencional: os próprios seres humanos passaram a enterrar as sementes, conseguindo reproduzir parte da vegetação local. E foi assim que o homem começou a plantar.
Essa descoberta não dispensou a coleta de alimentos, mas possibilitou que os grupos humanos se fixassem por mais tempo numa região, pois, produzindo seu próprio alimento, já não precisavam mais deslocar-se com tanta frequência.
Somente mais tarde eles aprenderam a selecionar e armazenar os grãos. Também criaram técnicas mais eficientes de plantio, que só foram possíveis graças á produção de novos instrumentos de trabalho. Além da pedra lascada, que já utilizavam, passaram a empregar pedras polidas para construir suas ferramentas. Também passaram a produzir utensílios de cerâmica, como potes e vasos, utilizados para armazenar o produto de seu trabalho. Gradualmente, essas descobertas permitiram o planejamento da produção e o desenvolvimento da agricultura.
Nessa mesma época, os seres humanos também descobriram que era possível domesticar e criar animais, diminuindo a necessidade da caça, que era perigosa e incerta. Tal como a descoberta da agricultura, depois de um longo processo de observação e experimentos, a pecuária passou a ser praticada.
O aprendizado das técnicas agrícolas e da pecuária permitiu aos seres humanos formar povoados permanentes. Em vez de se deslocarem de tempos em tempos em busca de comida, abandonando seus abrigos a cada partida, podiam agora ficar num só lugar, tornando-se assim sedentários.
Ao fixar-se num território, os grupos humanos começaram a investir em construções mais duradouras. Suas casas passaram a ser construídas com materiais mais resistentes, tais como madeira, pedra e barro cozido. Os espaços foram organizados a fim de atender ás novas demandas: alguns serviam para moradias das famílias; outros para produção agrícola, a criação de animais e outras atividades. A esse conjunto de espaços organizados damos o nome de aldeia.
Pouco a pouco, a quantidade de alimentos produzidos nas aldeias passou a ser maior que a necessidade de sobrevivência do grupo. As sobras permitiram que algumas pessoas deixassem de trabalhar na agricultura e se dedicassem, exclusivamente, a tarefas artesanais, como produzir ferramentas e objetos de cerâmicas, tecer, construir casas e muralhas. Além disso, surgiram os comerciantes especializados em fazer trocas. Por exemplo: um aldeia podia ter muito trigo e poucas ferramentas; nesse caso, o comerciante encarregava-se de levar o excesso de trigo para outras aldeias, trocando-o pelas ferramentas de que sua aldeia necessitava.
Os artesões e comerciantes montaram suas oficinas e mercados de troca nas proximidades das aldeias rurais, dando origem ás primeiras cidades.
Há 6 mil anos, era grande o número de cidades na região do mundo que chamamos de Oriente Médio.
Não demorou para as cidades serem atacadas por grupos nômades ou rivais. Surgiram, então, os primeiros soldados, indivíduos preparados para defender o grupo. Nessa época, os homens também aprenderam a produzir objetos de metal ao dominar a técnica de fundição, o que possibilitou a fabricação de armas muito mais eficientes para combater as invasões.
A DIVISÃO DA PRÉ-HISTÓRIA: PALEOLÍTICO, NEOLÍTICO E IDADE DOS METAIS
Ao longo da Pré-História, o modo de vida dos grupos humanos sofreu profundas mudanças. Á medida que se transformavam, iam desenvolvendo novas ferramentas.
Com base no modo de vida dos homens pré-históricos e no tipo de ferramenta que utilizavam, os cientistas dividem a Pré-História em três grandes períodos: Paleolítico (também conhecido como Idade da Pedra Antiga ou Lascada), Neolítico (também conhecido como Idade da Pedra Nova ou Polida) e a Idade dos Metais.
Chama-se Paleolítico (paleo = antigo; lítico = relativo á pedra) o período da Pré-História em que os grupos humanos utilizavam instrumentos da pedra lascada. Esse período, portanto, é anterior ao aparecimento da agricultura, quando os seres humanos ainda não tinham moradia fixa.
Já o período Neolítico (neo = novo; lítico = relativo á pedra) se caracteriza pelo uso de instrumentos feitos de pedra polida. Ele se inicia com o surgimento da agricultura e a fixação do homem á terra.
No final do período Neolítico, os homens desenvolvem a técnica de fundição de metais, o que propicia a produção de instrumentos de trabalho mais eficientes e resistentes que são conhecidos até hoje: foices, machados, arados, armas, entre outros. Essa descoberta dá início á Idade dos Metais. Foi nesse período que o homem inventou a escrita, evento que marcou o fim da Pré-História.
COMO OS SERES HUMANOS SE ORGANIZAM
As pesquisas arqueológicas apontam que os primeiros grupos humanos surgiram e viveram no continente africano. Com o passar do tempo, esses grupos foram se espalhando pelo planeta em busca de melhores condições de sobrevivência.
Todos os seres humanos do planeta têm uma mesma origem; contudo, não vivem da mesma forma. Isso ocorreu, dentre outras coisas, porque cada grupo, ao se fixar numa região, precisou superar as dificuldades naturais do lugar, que eram bastante diversificadas.
AS DIFERENTES FORMAS DE VIVER
Ao longo do tempo, os diversos grupos foram capazes de criar um conjunto de práticas e regras de sobrevivência próprias, dando origem a diferentes modos de vida (ou culturas).
Esquimós e berberes, povos que apresentam formas de organização social bem diferentes. Ambos desenvolveram seu modo de vida para superar as dificuldades que tiveram de enfrentar, mas cada um deu respostas diferentes a suas necessidades, garantindo a sobrevivência de seus membros.
OS ESQUIMÓS
Os esquimós habitam o extremo norte do continente americano (Alasca, Groenlândia e Canadá) e uma ilha do extremo norte da Europa (Islândia). Como nesses locais a temperatura é muito baixa, eles tiveram de desenvolver uma técnica de construção de casas que garantisse sua sobrevivência ao frio intenso. Assim, criaram iglus, moradias feitas com blocos de gelo e forradas de tal modo que a temperatura interna permanece elevada o suficiente para que se possa sobreviver. Para se proteger do frio, também desenvolveram roupas especiais, feitas com peles de foca e forradas com pele de urso ou de raposas.
OS BERBERES
Os berberes são povos que vivem no norte da África, região caracterizada por um clima quente e seco. Para garantir sua sobrevivência, desenvolveram o comércio entre regiões ao norte e ao sul do deserto do Saara. Assim, passam a maior parte de suas vidas viajando em caravanas pelo deserto.
Nessas viagens, que duram cerca de três meses, enfrentam 2,4 mil km sobre o dorso de camelos. Além das mercadorias, carregam suprimentos, como água e frutas secas. Para proteger-se do sol, do vento e da areia, usam turbantes que cobrem a cabeça, o pescoço, o nariz e a boca, deixando apenas os olhos de fora. Para cobrir o corpo, usam longas túnicas. Em suas paradas, montam tendas para se abrigar.
A necessidade de viajar pelo deserto deu aos berberes um jeito próprio de viver, adaptado ás condições do ambiente.
O RESPEITO ÁS DIFERENÇAS
Desde que os homens surgiram e se espalharam pelo planeta, organizados em grupos, procuraram transformar suas condições de vida. Passaram a desenvolver estratégias de comunicação, alimentação e habitação em função das escolhas do grupo e das características naturais do lugar onde se fixavam. Com o tempo, aprenderam a transformar esse lugar, ou a transformar-se de acordo com suas necessidades.
Por isso, não podemos julgar as formas de organização social e a cultura dos diferentes povos, classificando-as como boas ou ruins, evoluídas ou inferiores. Se essas formas de organização garantem a sobrevivência dos seus membros, são eficientes, cumprem sua principal função.
Atualmente as crianças têm ao seu alcance recursos tecnológicos e científicos como computadores, CD-ROMs, brinquedos e jogos eletrônicos, entre outros. Provavelmente, as crianças esquimós ou berberes não dispõem desses recursos.
Então devemos olhar culturas distintas da nossa com curiosidade e respeito, sem julgá-las. Não são piores nem melhores: apenas diferentes.